Sonhos que ultrapassam fronteiras: Levantamento feito pelo Cespe/UnB aponta que 8,8% dos candidatos inscritos são de outros estados

Com a crescente concorrência por uma boa colocação no mercado de trabalho, a cada dia mais disputado e exigente, é grande o número de pessoas que buscam oportunidades Brasil afora, tanto no serviço público quanto na iniciativa privada. Muitos abdicam de viver próximo da família e vão para longe da cidade natal na expectativa de conquistar estabilidade e se realizar financeiramente, ou mesmo como um desafio pessoal.
 
Levantamento realizado pelo Centro de Seleção e de Promoção de Eventos da Universidade de Brasília (Cespe/UnB) confirma essa tendência. A amostragem envolveu 15 dos 83 concursos públicos que ocorreram em 2006. Do total de 269.689 candidatos, 23.754 se inscreveram em estados diferentes de seus estados de origem, o que equivale a um percentual de 8,8%.

Foram escolhidos os concursos das polícias civis dos estados do Acre, do Espírito Santo e do Pará; polícias militares de Sergipe e do Espírito Santo; Prefeitura Municipal de Parauapebas (PA); Fundação Renascer de Sergipe; Secretaria de Educação do Mato Grosso (Seduc/MT) – os três últimos, para a área de Educação; Tribunais Regionais Eleitorais (TREs) do Pará, Tocantins, Acre, Rio de Janeiro, Roraima e Rondônia; e Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em Brasília. A pesquisa contemplou processos seletivos das mesmas instituições ou da mesma área, executados em diversas regiões do país.
 
O concurso da Polícia Civil do Estado do Pará teve o maior percentual de candidatos de outros estados. Dos 5.959 que concorreram às 650 vagas oferecidas, 1.282 eram de regiões diferentes, o que corresponde a 21,5%. “Na pesquisa realizada, o percentual, se comparado ao universo analisado, talvez chame menos atenção do que o valor absoluto. Entretanto, as mais de 23 mil pessoas que saíram de suas cidades em busca de emprego em outras localidades representam a disposição crescente da busca por melhores salários e oportunidades”, destaca o diretor-geral do Cespe/UnB, Mauro Rabelo.
 
OPORTUNIDADE

Foi o que aconteceu com o professor de História Maurício Dias Braga, 24 anos. O tocantinense, que mora na cidade de Fátima (TO), decidiu disputar uma vaga ao saber que a Prefeitura Municipal de Parauapebas (PA) havia aberto concurso para profissionais de sua área. Como a oferta era de 575 postos de trabalho, ele resolveu se inscrever. “O Pará fica próximo ao Tocantins. Não é tão longe assim. Achei que era uma oportunidade de conseguir emprego certo e estável”, conta. Satisfeito com a aprovação, Maurício enfrentou uma concorrência de 163 candidatos/vaga.

A mudança de cidade também é a meta da piauiense Andreia Batista Fechinne, 27 anos. A advogada mora em Teresina (PI), mas preferiu prestar o concurso da Caixa Econômica Federal de 2006 em Recife (PE). “Como meu namorado está lá, acredito que essa é a forma mais segura para que eu possa me transferir”, explica. Embora não tenha sido aprovada, ela não desistiu. “Pretendo continuar me preparando”.

Segundo a professora da UnB e especialista em Psicologia Social e do Trabalho, Ione Vasquez de Menezes, é fato consolidado que as pessoas mudam por questões de estabilidade e salário. Embora o emprego público possa trazer benefícios diretos e indiretos, é preciso tomar cuidado para não se acomodar. “Quanto mais próxima for a meta pessoal de trabalho do cargo escolhido e do próprio nível de capacitação, mais gratificante será a função desempenhada no órgão público”, observa. Na opinião da especialista, fazer cursos e se reciclar são fatores importantes para todo profissional.

"O ideal é escolher o que se gosta, unido a uma boa remuneração, já com uma lógica de interesse profissional bem definida, para que, futuramente, não haja nenhuma frustração" Diz Ione Vasquez de Menezes, professora do departamento de Psicologia Social e do Trabalho do Instituto de Psicologia da UnB

FUTURO

Ione Vasquez acrescenta que o salário não deve ser o único fator ao se decidir por determinado concurso público. “O ideal é escolher o que se gosta, unido a uma boa remuneração, já com uma lógica de interesse profissional bem definida, para que, futuramente, não haja nenhuma frustração”, completa a professora.

Pensando dessa maneira, a mato-grossense Tatiane Ferreira Leite, de 25 anos, decidiu entrar na disputa por uma vaga no serviço público. Há quatro anos morando em Brasília, Tatiane, natural de Rondonópolis, fez recentemente as provas do concurso do Tribunal Regional Eleitoral de Rondônia (TRE/RO), que registrou 13.302 inscritos. “Sinto falta de todos, mas quero garantir minha estabilidade e minha in-dependência financeira”, explica. Agora, a advogada aguarda o resultado final do concurso, previsto para o dia 10 de abril. Ao mesmo tempo, para não perder o ritmo, freqüenta as aulas em um cursinho e também estuda em casa. Embora distante da família, ela destaca que está buscando a realização de um sonho. “Preferi concorrer em outro estado. A concorrência era menor e havia vagas na minha área”, resume.

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